Uma visita ao único Parque Nacional do país pode servir para encher os pulmões de ar fresco e os olhos de verde. E também pode revelar-nos a dimensão onírica da Natureza, oferecendo-nos lugares que emanam encanto e mistério.”
O Parque Nacional da Peneda-Gerês compreende mais de setenta mil hectares de território protegido, que abrange as serras Amarela, do Gerês (a mais conhecida) e da Peneda. A paisagem é tão variada que depressa se compreende que o ponto de convergência é, muito simplesmente, a necessidade de protecção desta área.
Mas, como já se disse, o homem também é parte integrante deste espaço natural. Como se organizaram as comunidades locais e que contributos deram e dão à interação e conservação dos ecossistemas? O isolamento a que estas comunidades estavam sujeitas, determinou a forma de ver e interagir com o meio, tornando-a equilibrada, levando-as a valorizar e a aprender a tirar proveito dos recursos existentes. Assim, desenvolveram-se as atividades de agropecuária, com a criação de animais para consumo e uma atividade agrícola baseada no cultivo de cereais (milho e centeio) batata, feijão, a horticultura, a silvicultura, a apicultura, a pastorícia, na qual se destacam a criação de animais de qualidade reconhecida ainda hoje pela tradicional forma de os alimentar com as espécies nativas. Entre eles estão: o gado barrosão, e a cachena, a cabra-bravia e a ovelha-bordaleira. Além destes animais que tradicionalmente faziam parte da dieta local, temos a criação de porcos que dão origem ao tradicional fumeiro, com os seus enchidos e presuntos de renome nacional e além-fronteiras. Contudo, entre um dos mais emblemáticos animais domésticos que até à revolução das comunicações serviram como meio de transporte de pessoas e carga, temos o garrano que é um cavalo de pequena estatura mas, muito bem adaptado ao meio montanhoso da área do Parque Nacional.
Hoje, estes animais vivem maioritariamente em liberdade, em vida selvagem, fazendo as delícias dos viajantes que têm o privilégio de se cruzar com eles nas suas caminhadas pelos carreiros montanhosos que ligam aldeias isoladas e, ou, sítios de belíssima paisagem protegida nos domínios do parque.
Falarmos das comunidades do PN é falarmos de Castro Laboreiro, Peneda, Soajo, Lindoso, Terras de Bouro, Campo do Gerês, a extinta mas emblemática Vilarinho das Furnas, Caldas do Gerês, Cabril, Pitões das Júnias e Tourém, que, se notabilizaram pela forma organizativa e social. Naturalmente, não irei desenvolver muito sobre estes aspetos, apenas dar algumas dicas que se irão desenvolver em próximas edições de Geo-Lusitanum, dedicadas em particular a cada uma das representativas aldeias do PNPG. Mas, de uma forma geral, as populações aqui residentes por tempos imemoriais, desenvolveram estruturas comunitárias que, não sendo especificamente de alguém, eram de todos. Os terrenos baldios eram mantidos e geridos pelas comunidades para que estes servissem à população, deles tirando, lenha, madeira, o mato para fazer as camas dos animais, e por fim fertilizante para as terras de cultivo. Este equilíbrio permitiu que estas terras chegassem até nós muito bem conservadas de um ponto de vista ecológico. Entretanto, as formas de organização das comunidades, num ambiente agreste, como o que encontramos nestas paragens, onde no Inverno as temperaturas rondam as negativas, ocorrendo com frequência geadas e nevões, levaram a um conjunto de práticas organizativas territoriais como as que se verificam em Castro Laboreiro com a existência das brandas e inverneiras, lugares para onde as populações pastoris se deslocam consoante a época do ano. As brandas, localizadas em altitudes mais elevadas que podem chegar acima dos 1000 metros, são os lugares onde passam nove meses do ano, desde a entrada da Primavera até ao final do Outono, de onde se deslocam para as inverneiras, locais onde a altitude está abaixo dos 900 metros e ali irão passar os restantes três meses do ano.
Uma das mais emblemáticas localidades foi a de Vilarinho das Furnas, cuja comunidade tinha uma organização social muito própria, mas que se perdeu com a construção da barragem hidroelétrica, cuja albufeira submergiu a aldeia, levando à translocação dessa população para outras aldeias vizinhas. Naturalmente que, muitas dessas ancestrais formas de organização se deveram ao isolamento que estas tinham da restante sociedade cosmopolita dos grandes centros urbanos, onde o isolamento era, se não nulo, quase nulo.